terça-feira, 8 de setembro de 2009

Literatura dalai

Fernando Pessoa diria, pouco tempo atrás, que todas as cartas de amor são ridículas. Dentre os tantos gêneros literários que temos, a carta possui lugar especial, pois é só ali que podemos ler, sem sombra de dúvida, o autor enquanto pessoa, e não enquanto narrador. Ali, ele deposita sentimentos vividos, e não apenas os criados. Ali, encontramos marcas de lágrimas, marcas de sangue. Não à toa podemos encontrar na história literária vários romances escritos de maneira epistolar. Cito, apenas para citar um exemplo, Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe.

Para tanto, segue uma das cartas mais belas que uma mulher ousou escrever. Virginia Woolf, no final de sua vida depressiva, escreve a seu marido, Leonard. O resto, a carta diz por si só.

Meu querido Leonard:

Tenho a certeza de que estou novamente a enlouquecer: sinto que não posso suportar outro desses terríveis períodos. E desta vez não me restabelecerei. Estou a começar a ouvir vozes e não me consigo concentrar. Por isso vou fazer o que me parece ser o melhor.
Deste-me a maior felicidade possível. Foste em todos os sentidos tudo o que qualquer pessoa podia ser. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até surgir esta terrível doença. Não consigo lutar mais contra ela, sei que estou a destruir a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como deve ser. Não consigo ler.

O que quero dizer é que te devo toda a felicidade da minha vida. Foste inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom.

Quero dizer isso — toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse ter salvo, esse alguém terias sido tu. Perdi tudo menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar a atrapalhar a tua vida. Não mais.

Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós fomos.


Virginia Woolf se joga em seguida num rio, com pedras no bolso. Um dos suicídios mais marcantes da história.

Fonte:

http://blog.syracuse.com/shelflife/2008/01/woolf.jpg

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Literatura dalai

Fernando Pessoa diria, pouco tempo atrás, que todas as cartas de amor são ridículas. Dentre os tantos gêneros literários que temos, a carta possui lugar especial, pois é só ali que podemos ler, sem sombra de dúvida, o autor enquanto pessoa, e não enquanto narrador. Ali, ele deposita sentimentos vividos, e não apenas os criados. Ali, encontramos marcas de lágrimas, marcas de sangue. Não à toa podemos encontrar na história literária vários romances escritos de maneira epistolar. Cito, apenas para citar um exemplo, Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe.

Para tanto, segue uma das cartas mais belas que uma mulher ousou escrever. Virginia Woolf, no final de sua vida depressiva, escreve a seu marido, Leonard. O resto, a carta diz por si só.

Meu querido Leonard:

Tenho a certeza de que estou novamente a enlouquecer: sinto que não posso suportar outro desses terríveis períodos. E desta vez não me restabelecerei. Estou a começar a ouvir vozes e não me consigo concentrar. Por isso vou fazer o que me parece ser o melhor.
Deste-me a maior felicidade possível. Foste em todos os sentidos tudo o que qualquer pessoa podia ser. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até surgir esta terrível doença. Não consigo lutar mais contra ela, sei que estou a destruir a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como deve ser. Não consigo ler.

O que quero dizer é que te devo toda a felicidade da minha vida. Foste inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom.

Quero dizer isso — toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse ter salvo, esse alguém terias sido tu. Perdi tudo menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar a atrapalhar a tua vida. Não mais.

Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós fomos.


Virginia Woolf se joga em seguida num rio, com pedras no bolso. Um dos suicídios mais marcantes da história.

Fonte:

http://blog.syracuse.com/shelflife/2008/01/woolf.jpg